Como podemos apoiar o professor de arte para que melhor sistematize e registre seus projetos educativos? Essa questão surgiu como desdobramento natural das primeiras edições do Prêmio Arte na Escola Cidadã. Em resposta, um Roteiro de Orientação ao Professor foi elaborado, difundindo a ideia de portfolio, ou seja, uma pasta de documentos que evidenciam os caminhos individuais do ensino e da aprendizagem percorridos por professores e alunos. O instrumento auxilia também os integrantes das comissões julgadoras, que passam a dispor de mais elementos para suas análises e decisões.
Desde 2008, o processo de avaliação do prêmio desdobra-se em três etapas. Na primeira, as comissões locais, formadas por professores indicados pelos coordenadores dos Polos da Rede Arte na Escola, fazem uma pré-seleção dos projetos inscritos. Na segunda, os portfolios dos projetos pré-aprovados são analisados por Comissões de Avaliação Regional em quatro regiões: Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Os projetos selecionados nesta etapa seguem para a terceira e última fase: a avaliação por um comitê formado especialistas em arte e cidadania, que neste ano foi composto por Sumaya Mattar (Artes Visuais), Gustavo Kurlat (Música), Márcia Strazzacappa (Dança/Teatro) e João Roberto de Araújo (Cidadania). A seguir, eles próprios contam sobre a experiência, cada um a seu modo, depois de dois dias inteiros trabalhando em equipe na análise dos 155 projetos finalistas.
Érica, em seu diálogo da estética com o meio ambiente, apresenta aos pequeninos da educação infantil a sensibilidade de Frans Krajcberg e inunda a escola de alegria, cores e fragmentos da natureza. Paulo se inspira em um marimbondo solitário que construía uma "casinha" na lâmpada da sala de aula e explode em criatividade de "casas e formas de habitar a arte". Estudos sobre casas de aranhas, caracóis, caramujos e ninhos de passarinho envolvem os alunos e os encantam em um fantástico ano de arte na escola. Mariana, com agulhas e linhas, com livros de pano e bonecas de tecido, reúne o tradicional e o contemporâneo e revela a atemporal arte da bordadura. Aline, inspirada em Tolstoi e Portinari, no universal e na aldeia, reúne a cultura popular tradicional com a história da arte brasileira e realiza trabalho coletivo integrando a escola e a comunidade. Carmen, com “Olhares”, lembra Diego, na obra de Eduardo Galeano, que, diante da imensidão do mar que via pela primeira vez, pede ao pai: "Ayúdame a mirar!". E, pela fotografia, expande o olhar crítico de seus alunos a partir dos diferentes fenômenos que ocorrem na cidade.
João Roberto de Araújo
De modo geral, projetos de trabalho voltados apenas à aprendizagem de técnicas, com conteúdos pouco significativos, que não valorizem a experiência dos estudantes e que sejam pautados em conceitos pouco claros, carecem de princípios valorizados pelo Prêmio, como a seleção de conteúdos e experiências significativas aos estudantes, que dialoguem com suas vidas e com o mundo que os cerca; relações pedagógicas pautadas no diálogo e no mútuo respeito, que coloquem o estudante em situação ativa em relação à própria aprendizagem; a valorização do desenvolvimento poético do aluno, tendo em vista a crescente conquista de sua autonomia; atitude investigativa, reflexiva e criadora do professor e a relação entre arte, docência e pesquisa incorporada à sua práxis; clareza e aprofundamento dos conceitos e procedimentos trabalhados; diálogos com a arte contemporânea e de outras épocas e com as culturas regionais e/ou locais; otimização dos recursos e capacidade de superação de dificuldades materiais e estruturais; a produção de conhecimento dos alunos e possíveis mudanças em sua maneira de se relacionar com a arte, entre outros. Há que se considerar, ainda, que nada disso terá valor se o professor não for capaz de refletir sobre a experiência desenvolvida com seus alunos, seus resultados e comunicá-lo de uma forma que possa traduzir o sentido e a essência do trabalho realizado.
Sumaya Mattar
Houve entre os projetos selecionados o predomínio das artes visuais, e nós procuramos ter um olhar interliguagens. Priorizamos um olhar geral, mais totalizador, prestando muita atenção nas possibilidades de interseção, de junção das linguagens artísticas. Em dois dias de trabalho intenso, foi muito importante observarmos os desdobramentos possíveis nas várias linguagens entre 155 dos 800 trabalhos selecionados nas etapas anteriores. A experiência com os avaliadores foi fluente e muito gratificante. Houve sintonia não porque pensássemos igual, mas por respeito e escuta grande. Sou da área de música e acredito que tudo começa pela escuta, no sentido literal e metafórico. Procuramos descobrir o que os trabalhos tinham a dizer para nós, para os alunos, para as escolas, para as comunidades. Saímos com a sensação não só do dever cumprido, mas de termos aprendido. Creio que o aspecto central a ser destacado é o poder transformador dos trabalhos apresentados: quem participa não pode sair da mesma forma que entrou.
Gustavo Kurlat
Ter integrado a Comissão de Avaliação Nacional do Prêmio Arte na Escola foi um privilégio, pois me permitiu ter uma visão sobre ações concretas de professores de Arte de diferentes regiões do país, das grandes metrópoles a municípios totalmente desconhecidos. Por vezes, foi necessária a ajuda do Google Maps para localizar a região onde aconteceu o projeto e conhecer um pouco a sua identidade (economia, número de habitantes, etc.).
Imaginar que uma professora de uma cidade com menos de 15 mil habitantes ou outra de uma região distante 300 km de um grande centro realiza um projeto de arte com tanta maestria é um alento. A cada portfólio aumentava a esperança de que trabalhar com arte na formação de professores ainda vale a pena!
Foi igualmente um prazer trabalhar com a equipe de avaliadores, Sumaya, Gustavo e João, estes dois últimos que não conhecia pessoalmente. Foram dois dias de trabalho intenso, porém com muita sintonia, indicando que, mesmo com campos de atuações diversificados (dança/teatro, música/teatro, artes visuais e cidadania), havia um pensamento sobre arte e educação.
Márcia Strazzacappa
O Instituto Arte na Escola agradece a todos os que disponibilizaram seu tempo, conhecimento e sensibilidade para colaborar com o Prêmio Arte na Escola Cidadã participando como membros das Comissões Julgadoras Nacionais.
Por Sylvia Bojunga