Raquel Alves
Nem tão acadêmico quanto o stricto sensu convencional, nem tão pragmático quanto o lato sensu. O mestrado profissional surge como uma terceira via ao agregar a profundidade do mestrado com a aplicabilidade dos programas de especialização. Mais objetiva e funcional, a nova modalidade outorga o título de mestre, é reconhecida pelo MEC, tem apoio integral da Capes e está disponível para os professores de Arte (Cênicas, Música e Artes Visuais). Coordenado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), o ProfArtes tem por objetivo proporcionar formação continuada a docentes de Arte da Educação Básica pública, propondo discussões sobre o papel do ensino da disciplina na escola e na comunidade. Em termos práticos, o programa deve contribuir para a qualidade do ensino e para a valorização das artes no contexto educacional.
O ProfArtes é resultado de um estudo aprofundado feito com a Capes e vários docentes, e já está disponível em 11 universidades públicas. "É uma política de indução de formação do docente. Percebemos que estávamos longe da prática, da sala de aula, e agora estamos diante da oportunidade de planejar e organizar o ensino da Arte no contexto da Educação Básica", avalia André Carreira, coordenador do programa na UDESC. Para levar adiante esse ideal, ele conta com o engajamento de 170 alunos já matriculados, mais o empenho de professores e orientadores. O curso tem estrutura semipresencial, com a oferta de duas disciplinas de fundamentação à distância, três disciplinas obrigatórias e três optativas.
Somente podem participar do processo de seleção os docentes da Educação Básica pública (Ensino Fundamental e Médio), portadores de diploma de nível superior reconhecidos pelo MEC, que devem estar ministrando aulas de Artes (Cênicas, Visuais e Música) em instituições escolares e/ou culturais públicas. "O ProfArtes aproximará a academia da sala de aula, a partir do momento em que uma das exigências é a de que o mestrando esteja de fato exercendo a sua função de professor e que desenvolva em sua dissertação um tema relacionado ao ensino das artes nas escolas públicas. Isso necessariamente fará com que ele pense em sua relação com a sala de aula", acredita o coordenador do programa na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paulo Vieira.
O ProfArtes entrou em marcha em agosto de 2014. Os selecionados passaram por uma avaliação de rendimento intelectual, por uma entrevista e tiveram seus projetos de pesquisa analisados pelos coordenadores do curso. A pesquisa não precisa ser necessariamente uma dissertação, muitas vezes um plano de trabalho, com a proposta de intervir diretamente na escola, é suficiente. "O candidato a mestrando do Profartes já deve ter uma ideia prévia do que fará e, nesse sentido, orientará o seu estudo para aquilo que irá desenvolver no seu trabalho final", recomenda Vieira.
Ao ingressar, o mestrando assume o compromisso de permanecer pelo menos mais cinco anos ativo na sala de aula. No aporte que o Capes faz ao programa estão incluídos recursos para pesquisa e para atividades na escola, desde transporte para visitação a museus e áreas públicas, até produção de oficinas e workshops. "O sentido é produzir professores mais conscientes e comprometidos com as práticas artístico-pedagógicas e ajudar a repensar o lugar da arte nas escolas, a fim de que o professor não seja um animador de festa, mas alguém que atue de fato na formação humana, estimulando a sensibilidade dos jovens", avalia o professor da UFPB.
Na primeira seleção do ProfArtes, 2 mil professores batalharam pelas 180 vagas, ou seja, havia praticamente 11 candidatos para cada vaga. "Para os próximos anos, pretendemos ampliar as vagas e principalmente pensar ações institucionais que ajudem a refletir sobre o papel das aulas de Arte", finaliza Carreira.
Você se encaixa?
Segundo André Carreira, cumprir as exigências formais do ProfArtes não é tudo. Ele recomenda que os candidatos façam antes algumas reflexões:
- Gostar de ler e aprender. O projeto não visa apenas melhorar as estatísticas do Governo, mas contribuir de maneira efetiva para a educação pela arte.
- Enxergar além do cumprimento básico. O professor deve entender que o seu conhecimento é um bem público e deve ser compartilhado para que a arte tenha vida na escola.
- Ter interesse em pesquisar sobre as próprias práticas e procedimentos.
- Estar imbuído do propósito de criar um campo de arte na escola. Propiciar acontecimentos, dar vida às ideias.
A VOZ DE QUEM FAZ
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Jaqueline Cristina da Silva Colégio Estadual São Francisco Xavier – Abaetuba (PA)
"É uma conquista muito importante, esperava há tempos por isso. Minha intenção não é só adquirir mais conhecimento, mas principalmente partilhar a experiência que tive com o projeto Auto da Barca Amazônica, reconhecido na edição de 2010 do Prêmio Arte na Escola Cidadã. Optei pelo relato desse trabalho, que começou no Colégio Estadual São Francisco Xavier e acabou envolvendo toda a comunidade da cidade de Abaetuba, no Pará. Agora quero me concentrar em refletir sobre o que já conseguimos e dividir a experiência com os professores." |
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Rodrigo Neris Escola Estadual Heloíza Therezina Murbach Lacava - Santa Bárbara do Oeste (SP)
"Minhas aulas mudaram completamente já no primeiro semestre do mestrado. A vivência no curso tem sido tão intensa que está me trazendo um olhar novo para várias questões e contribuindo para fazer a ressignificação de tudo. Na minha pesquisa pretendo mergulhar na experiência estética. Quero ter mais compreensão de quanto isso pode potencializar o aprendizado. Vou investigar esse encontro com a arte com meus alunos na Escola Estadual Heloíza Therezina Murbach Lacava, de Santa Bárbara do Oeste, São Paulo." |
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Gustavo Henrique de Faria Fernandes Escola Estadual Professor Américo Virgílio dos Santos - Botucatu (SP)
"A ideia de poder aplicar novas experiências na sala de aula e refletir sobre a nossa prática o tempo todo é muito instigante. É refletir não só sobre o fazer artístico, mas também sobre os caminhos para promover o diálogo artístico dentro da escola, sobre a capacidade desse tipo de experiência gerar mudanças. Outra coisa muito interessante nessa volta à academia é a troca que se dá entre o grupo, cada um traz uma experiência, um olhar, e isso é enriquecedor." |