Boletim Arte na Escola

Trazer para a escola e manter o interesse daqueles que por algum motivo não conseguiram estudar quando jovens, ainda é um grande desafio do ensino público. Na XXI edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã, o projeto Memória, identidades e patrimônio foi o premiado na categoria EJA - Ensino de Jovens e Adultos. O professor Fellipe Eloy convidou os estudantes da Escola Municipal Padre Leonel Franca, em São Paulo/SP, a se questionarem sobre como as mulheres são representadas e percebidas na Arte. Eloy garante que ''a ideia do projeto não surgiu de uma hora para a outra. A ideia foi se formando aos poucos, foi decantando".

O projeto foi dividido em várias etapas: aulas destinadas à apresentação da proposta, visitas virtuais a museus, formação de grupos e contato com a biografia das artistas homenageadas, debates.

Tudo isso resultou na exposição Coisa de Mulher, onde o grupo de estudantes-artistas apresentou as obras: "Quem são e que vantagem têm essas artistas mulheres?” feita em homenagem ao coletivo Guerrilla Girls; “Não se pode falar, pensar e ver”, em homenagem à artista Rosana Paulino. As artistas Frida Kahlo e Louise Bourgeois também foram homenageadas nas obras "Minha doença não me define” e "Acolhimento".

“Muita coisa bonita era feita na escola e creio que em todas as escolas, mas as pessoas nem sempre ousam divulgar. Sei que a partir deste projeto, tanto eu quanto os outros profissionais envolvidos vamos passar a valorizar mais o que fazemos e divulgar para todo mundo ver que o que criamos nas escolas é lindo”.

Eloy já desenvolvia um projeto descentralizado na Escola Municipal Padre Leonel Franca, por meio do programa Mais Educação, e foi quando a gestão sugeriu uma intervenção que conversasse com os princípios da Agenda 2030, um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU. Um desses objetivos é trabalhar para alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas. Isso só alimentou a vontade do professor, foi daí que surgiu a instalação Coisa de Mulher.

"Fui criado por mulheres e com o tempo fui percebendo melhor o machismo estrutural. Venho tentando não colaborar para que esse discurso se perpetue ainda mais. Acredito que dar visibilidade para artistas mulheres, pesquisadoras etc., é uma tarefa de todos".

O educador conta que lecionar no EJA tem um significado especial para sua vida: "Eu precisei cursar essa modalidade para conseguir terminar meus estudos e só assim dar início no Ensino Superior. Hoje eu estou cursando pós-graduação em nível de doutorado no Programa de Artes da Universidade Estadual Paulista - UNESP. Foi difícil entrar e é prazeroso cursar/pesquisar, mas não seria possível se eu não tivesse a oportunidade de cursar o EJA no Ensino Médio, por isso tudo que faço com o EJA me emociona”.

Essa não foi a primeira vez que o professor participou do Prêmio. Desde 2016, ele inscreve os projetos que desenvolve na escola. “As minhas expectativas eram de ao menos ficar entre os finalistas e se possível receber uma menção honrosa. Eu sequer sonhava em ser premiado, eu queria participar e talvez ser lembrado, ser visto. Quando Julio [Landmann, um dos convidados a participar da cerimônia de premiação] falou meu nome como o premiado eu não acreditei. Depois disso, a minha confiança aumentou e a escola que ainda é vista como um das que precisam de mais atenção da DRE Pirituba/Jaraguá [Diretoria Regional de Ensino] também mudou, acredito que todos se beneficiaram. O apoio que recebi durante a premiação continua estimulando novas abordagens e acima de tudo o interesse de divulgar o que é feito, para que as criações dos alunos extrapolem as fronteiras da escola".

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