“O mundo é um grande objeto de curiosidade para as crianças”. Foi a partir dessa percepção que o professor Sérgio Tuck começou a desenvolver seu projeto Músicas do mundo, premiado na última edição do Prêmio Arte na Escola Cidadã na categoria Ensino Fundamental 1.
Os alunos da Escola Municipal Hélio Damante, na cidade de Bom Jesus dos Perdões/SP, mergulharam em uma viagem pelos cinco continentes a partir da música. A proposta de estudar o mundo a partir da arte surgiu da curiosidade dos alunos e também de um incômodo do professor ao observar a relação dos estudantes com a cidade: “Eles estão em um bairro que não é rural, é um bairro periférico, mas sempre que eles vão sair e vão pro centro da cidade, eles falam que vão para a cidade, como se eles não fizessem parte dela, isso é muito característico da região.” A partir desse incômodo, o educador buscou estratégias para que os alunos pudessem se apropriar do entorno e, por consequência, começar a desenvolver uma relação de proximidade com o bairro e com a cidade.
Com o auxílio do digital, a turma navegou da sala de aula para o bairro, para a cidade, para diferentes lugares do país e do mundo. A curiosidade crescente que aparecia durante as aulas, foi acompanhada por brincadeiras, músicas e jogos de cada localidade. Além de conhecer os lugares virtualmente, os estudantes fizeram um grande mapa múndi na sala de artes, recém-reformada, conta o professor. “Após o término das obras decidimos repintar o nosso mundo, em um grande mapa colaborativo”.
A partir daí, algumas provocações foram importantes para o desenvolvimento da relação das crianças com a música: “Que gênero musical vocês gostam? Qual o melhor som que você já ouviu? E qual o pior som que você já ouviu? Qual o lugar mais silencioso da sua casa?”. Essas questões foram algumas estratégias que o professor utilizou para se aproximar do universo musical dos estudantes e para investigar e refletir sobre os ambientes sonoros que faziam parte da vida de cada aluno.
O aprendizado da música passa pelo corpo. Para Tuck esse foi um dos caminhos mais importantes para trabalhar a música com as crianças. O educador retoma a importância de vivenciar a musicalidade no corpo e no dia a dia, antes mesmo de começarem os ensaios e o aprendizado sobre letra, tempos e ritmos. “O caminho era ouvir, interagir, brincar, jogar com essa música e depois partir para o treino e para o ensaio até chegar na apresentação. E ali, você já se apropriou [da música], ela já se tornou uma coisa que flui naturalmente.”
Divididos em grupos, os alunos partiram para a escolha de países. Chile, Itália, Grécia e Albânia foram alguns dos lugares escolhidos pela turma para estudar as músicas. O professor conta que algumas dessas escolhas foram desafiadoras e causaram grande estranheza nos alunos, como a sonoridade das palavras de cada idioma e as vestimentas típicas, mas tudo isso serviu para que os alunos encontrassem semelhanças entre as culturas estrangeiras e a nossa, explica o professor.
Um outro aprendizado importante foi que estudar os países a partir da curiosidade das crianças abriu caminhos para uma transdisciplinaridade muito fluida: na linguagem, o estudo dos idiomas faz conexão com as disciplinas de línguas, a dança com educação física, o estudos da cultura e das paisagens com a geografia, além da História. “No Equador eles ficavam maravilhados com as narrativas, com o que aprenderam sobre o relevo, os vulcões, os animais”, conta o educador e completa contando que as brincadeiras que conheceram sobre o Marrocos, as danças Argentinas, tudo foi enriquecendo o repertório dos estudantes e geram conexões com outros conteúdos curriculares.
Entre os desafios encontrados para a execução do projeto, Tuck cita a falta de acesso a instrumentos musicais, mas conta que, apesar das dificuldades, está orgulhoso da repercussão do projeto. “Sempre gostei de viajar e quando viajava, mesmo nas férias, eu mantia algum vínculo com as crianças. Tirava fotos, gravava vídeos, já pensando em compartilhar tudo com eles”, e finaliza contando que pretende expandir suas práticas e desenvolver outras frentes da musicalidade com seus alunos.