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Juliana Carvalho Carnasciali

O objetivo deste tópico é trocar informações sobre experiências interessantes com foco na potencialização da subjetividade em sala de aula através da arte, a partir do mundo individual e globalizado em que vivemos.

Juliana Carvalho Carnasciali

O que podemos fazer como arte educadores, seres sensíveis pensantes, para provocar o

movimento da delicadeza em nossos alunos? Delicadeza aquela que acorda o interno do

interno da pessoa e  comunica o indivíduo com ele mesmo a fim de fazer nascer a

invenção. Delicadeza aquela intrínseca ao sentir, ao querer, às sensações, questões que

só têm como via de acesso ao mundo o nosso próprio corpo. A partir de então. o que

podemos fazer, ou o que já fizemos e podemos contar ? As portas desta conversa estão

abertas, espero por vocês, sintam-se à vontade...   Jú

A sensação nos guia e nos defende, sem ela morreríamos,

corpos explodidos, decepados pelas forças físicas, pelo poder social e pelas dores íntimas.

Ela apresenta, como um ninho, uma vizinhança ou uma parede mole de espinhos duros e, em sua

cavidade dura, gera o sentido doce. Que sai dessa cavidade e voa.

A sensação mergulha portanto no silêncio, receptivo. Entendam isso como uma verdade sensível, a

verdade dos sentidos. A mudez inunda nossos sentidos. O silêncio constrói o ninho, o habitat da

sensação. Sem ele, ela não existe.

* Michel Serres em Os cinco sentidos

Juliana Carvalho Carnasciali

O que a obra Sweetness, de Meschac Gaba,  um artista de Benin, residente na 27 Bienal de SP, pode ter a ver com nossa pauta de discussão? vamos sentir-pensar... abraços... JÚ

Maria Eunice Valdevino Correia Almeida

Olá Jú! Eu sou a Eunice, de São Paulo, professora da rede estadual, no momento leciono para crianças de1ªs e 4ªs séries do ensino fundamental; Acredito que possamos mudar a concepção de que arte é só para distração, e fazer com que as crianças entendam os verdadeiros significados da Arte como expressão. E para que isso ocorra temos que revolucionar as escolas, com movimentos culturais, tirando as crianças das salas de aulas e levando-as aos museus, teatros, exposições e a outros eventos....Acredito que assim, nós como arte- educadores, possamos transformar nossos alunos em pessoas mais sensíveis e amantes da arte em geral...

Juliana Carvalho Carnasciali

Oi Eunice, que delícia sua fala! Compartilho destas idéias com você!!! A questão é, como podemos fazer para transmitir este vírus positivo, quais caminhos podemos tomar para provocar nossos alunos a compreenderem a importância da arte para a vida? Como trabalhar tudo isso em sala de aula independente do currículo determinado pela escola? Temos uma longa caminhada pela frente!!! Abraços.... Jú

Isabel Mir Brandt
Alo!

Meu nome é Isabel Mir, fui arte-educadora, no momento assumi a artista plástica, ou melhor dizendo a escultora que sempre fui. O fato de ser artista e arte-educadora sempre criou enormes conflitos teóricos e conceituais sobre o que arte?
Meu fazer artistico está dividido entre a arte para agradar os críticos e curadores e a arte para agradar a mim como ser humano e os apreciadores leigos da arte.
É a espetacularização da arte.
Nós artistas temos que ser também espetaculares, verdadeiros palhaços, produzindo  lixo para agradar os "contemporâneos" e somos expostos ao riso dos comuns.
Vivencia de caso: me inscrevi num salão, fiz uma obra com um lençol de malha, nojenta, repugnante, o foi selecionada pela "idéia espetacular", com um pseudonimo increvi uma escultura em aço que foi recusado.
Coloquei fogo na obra e xinguei a vontade e  registrei em vídeo, isso virou vide-arte, destriu o vídeo e registrei em foto que virou foto-arte. Queimei a foto sem ninguem ver.  Construo verdadeiros lixos para exposições onde infelizmente crianças são levadas por competentes professoras que elogiam o lixo contemporãneo e na escola até reproduzem minhas obras com materiais alternativos me convidam para apreciar e tudo vira espetáculo, depois aquilo tudo vira lixo... e assim vai...
Na cidade em que resido no interior de Santa Catarina, sou uma excessão a regra, pois sobrevivo apenas da minha arte, a que não é espetacular, aquela que que o outro admira, compra, leva para sua casa, fábrica, escritório, lhe oferece um lugar especial, e onde a obra permanece por anos criando uma relação entre criador, criação e apreciador.
Gostaria muito que este forum fizesse uma análise do estereótipo de arte contemporânea que está sendo financiada com dinheiro público como o caso dos premios de aquisição dos salões e bienais.
www.isabelmir.com.br
Carmem

Gente,

Meu nome é Carmem, sou arte=educadora e às vezes artista. Podemos potencializar a subjetividade dos alunos com uma foto da obra “Sweetness” ou/e de preferência visita à bienal. Levar textos que falem a respeito dessa obra e discuti-los com os alunos. Buscar outros artistas contemporâneos ou não que tenham trabalhado essa sutileza do tema. E que tal também (e sempre) levar artistas locais (próximos à escola) para falar do que acham do trabalho “Sweetness” e como eles trabalhariam esse tema? Por fim, deixar que os alunos possam manusear materiais e criem sua versão para o tema.

Stella Maris Domingues De Morais

Olá Ju

Meu nome é Stella Maris, sou professora de Artes na Rede Estadual de Ensino de São Paulo na cidade de Sorocaba. Trabalho com o movimento principalmente. Dança Circular Sagrada(danças dos Povos) ,Danças da Paz Universal em honra a Todas as religiões(cantadas e dançadas). Como Arte Educadora, faço o papel de facilitadora de descobertas pessoais e coletivas. As danças de roda, permitem que os alunos visualizem a escolha de cada um na roda da vida e se querem continuar na posição que ocupam ou se preferem atuar em várias posições, ou até mesmo ter a sabedoria de que podemos transformar, se realmente quisermos. Através de reflexões  em grupo ou individualmente o trabalho é realizado com certa dificuldade, pois existe ainda que pequena, uma cultura preventiva contra  o uso das Artes, para  pensarmos com autonomia... O abstrato ,a subjetividade esta diretamente ligado ao não material,ao não concreto e com a Arte Social de danças de roda, estou tentando produzir ,efeitos de bem estar,  gerando um clima de satisfação ou insatisfação na medida em que vivenciamos em conjunto, quando nos encontramos nas duas aulas  semanais.Aliado a esse trabalho, agrego informações jornalisticas e de Direitos Humanos.Beijão

Juliana Carvalho Carnasciali

Uau!!! Algo se movimentou dentro de mim enquanto lia calmamente o desabafo de Isabel! Tudo jóia querida? Quero dar as boas vindas a Carmem também...primeiro necessito dividir minha alegria em ver arte educadoras artistas se colocando. A fala de Isabel realmente me emocionou e ao mesmo tempo me intrigou. Adoraria convidar a todos para pensar de que ponto de vista Isa( com licença para lhe chamar assim) observa quando escreve-fala LIXO? Que lixo é esse? Vamos pensar, esta é uma ótima oportunidade para discutirmos um pouco sobre arte contemporânea, mundo contemporâneo, individualidade, singularidade, subjetividade, idéias e práticas dentro deste universo furtivo e por que não instigante... quem se habilita em continuar? Confesso que vou respirar e logo mais volto. também quero falar mais sobre este assunto... até já. Abraços Jú

Edson Da Silva
Olá! Equipe,
Aliás pergunto o avesso: alguém consegue sem a manifestação da subjetividade?
Me alimento de todo gesto sutil, de uma busca objetivada e um encontro inesperado, segundo o poeta Manoel de Barros - sou construído mais pelo vazio do que pelo cheio, o avesso de uma costura, uma trama a compor o emaranhado de linhas, cores, formas, texturas...
Por ora é só uma pitada de prosa...
Abraço Compartilhante!
Edson da Silva
Creche Repúblia Italiana
Santo André - SP
Julia Muller

Mexe muito comigo o comentário da Isabel, sim. Acho que sinto na Arte necessidade de construir, montar, brincar, juntar, compor, combinar, daí tenho que me situar com meus alunos em frente a um lençol manchado de sangue seco e um longo relatório ao lado sobre a experiência (sublime? asquerosa? emocionada?) da artista que envolveu a tempos atrás as vísceras de animais recém-mortos em uma fazenda !?!?!  Tenho acompanhado as colocações do Ferreira Gullar e concordo com ele. Mas tenho uma forma de expressar  o que penso p/ meus alunos:  a) arte é liberdade também e

b) é o reflexo do nosso tempo/contexto - e nossa época é muito "lixenta", como dizem meus alunos. É Paulo Coelho = literato, programas de quinta (categoria) na TV são culturais, "bate-estaca" é música e por aí vai. Há que se trabalhar arduamente prá achar/despertar/ressucitar a delicadeza que está nas crianças e jovens. Mas dá prá fazer, sim.

Juliana Carvalho Carnasciali

Ui!!! Vamos que vamos... já que Edson bem lembrou de Manoel de Barros, autor que amo, me desperta  vida, faz abrir os olhos para diversificados e sutis horizontes, vou aproveitar da subjetividade dele para começarmos o bate papo de hoje... uma professora minha costuma trazer Manoel para a conversa para nos lembrar da importância do "não fazer", do "momento lesma de cada um" ou ainda da possibilidade de sermos pedra, ou pássaro ou rua. Quando Manoel fala do homem que carregava água na peneira, ao mesmo tempo penso em nós... tão lúdica e tão furtiva, uma imagem ímpar para ser guardada na memória (corporal, espiritual, sensorial, psiquica...) patrimônio imaterial.

A Arte contemporânea tem muito a ver com isso e não sei até que ponto é "lixo" no pior sentido dele. Lixo de material, lixo de idéia, lixo de espaços, lixo de mundo? O que?

Quando Isabel e Julia se colocam me parecem estar olhando a arte da qual estamos falando de um banquinho ligado a contemplação. A delicadeza do olhar algo belo, belo com referência em uma estética de harmonia formal, uma estética clássica, ou algo assim. Época em que a beleza para o ufa interno vinha da beleza descoberta pelo olhar diretamente, e não pelo ouvido, nem pelo corpo, nem pelo pensamento, nem muito menos pela ação.

Se a arte contemporânea nos coloca em um lugar onde para ela existir nós precisamos acontecer, significa que tudo muda. A delicadeza vai ter que ser encontrada em outro lugar, até porque nosso mundo muitas vezes não nos deixa ser delicados...estas são  camadas que temos que descobrir e tocar todos os dias, feito um exercício. Exercítar percepção, sensibilidade frente ao mundo onde vivemos porque não temos outro e este que temos está gritando. Frente a tudo, o que podemos enxergar de belo nisso, especialmente dentro daarte.

POde haver beleza, por que não em KARIN LAMBRECHT, provavelmente a artista citada por Julia em sua fala, que tem por paixão intrínseca manusear matéiras, pelo que descobri em um documentário sobre seu trabalho. Não vou negar, o modo como a artista lida com seu trabalho também me angustiou a princípio, mas quando percebi ser aquela a sua subjetividade, seu modo de se comunicar com seu mundo, seu modo de produzir, de processar, aí então me encantei, KARIN enxerga sangue matéria, vísceras matéria, barro matéria, camadas de barro ou sugeira matéria e isso é uma delícia de ver acontecer. ela se desprende de qualquer conceito que algum teórico possa formatar sobre  seu próprio trabalho e apenas inventa. Ela de dá o prazer de experimentar, experimentar um material que seu corpo ou percepção talvez peça. A tinta, fabricada não cabe em sua urgência de produzir. Sentimento de urgência sabem? Aquele citado pelo pequeno príncipe em sua história. Isso gente, sem preconceitos, é algo genial.

Se o nosso mundo é um lixo, como temos em depoimentos aqui, este é o nosso território e há quem se comunique com ele com beleza estética formal harmônica ou o inverso, isso tudo é muito relativo e necessário ao que vivemos hoje. Me parece que nosso artistas contemporâneos semtem a necessidade de cutucar, provocar, gritar, na maioria das vezes com si mesmos e não conosco necessáriamente, temos hoje uma arte para fazer sentir pensar provocar... parar e fruir uma fruição singela parece não mais caber em todo tempo hoje. Não quer dizer que isso não exista. O próprio Meshac Gaba questiona, não a arte contemporânea, mas nosso mundo, que necessita de doçura. Não vou negar, concordo neste sentido com eles e com vocês...

"Trago para dentro da pintura o próprio rio - a água e aterra - o barro(...);vou tentar uma unidade entre a gestualidade, o material e uma forma central que pode se expandir até as bordas da área(...);godto de trabalhar num lugar silencioso."  KARIN Lambrecht

Juliana Carvalho Carnasciali

Há duas questões que gostaria de propor após a leitura dos depoimentos de Julia, Isa e Edson:

1. Como trabalhar com nossos alunos para experienciar a possibilidade de exergar a beleza de entrelinhas, a beleza de idéias, a beleza de sensações que são emergências de nosso século, e como produzir delicadezas, independente da forma visual delas, como podemos promover e provocar este sentido, esta necessidade, Meschac construiu uma cidade de açúcar , e nós?

2. Como trabalhar a alfabetização visual,  musical, corporal e sensorial de nossos alunos independente da arte que trabalhemos? É, porque há de haver beleza em cantinhos que muitas vezes possamos não enxergar. O grande lance é descobrir como atravessar a arte ou deixar que ela nos atravesse, seja ela qual for, desde um trabalho de Michelangelo, Miró, Picasso, Rodin até um Marcelo Cidade, uma Minerva Cuernas, Marepe, ou até Karin L. Desde uma música clássica, até um samba, ou a musicalidade de uma música eletrônica, industrial até, porque não, a invasão sensorial que um funck do Rio, exerce sobre o corpo das pessoas, é , porque você pode até dizer não gostar, achar a letra e os produtores deste trabalho agressivos, ou algo assim, mas não pode negar que a sonoridade invade o físico de qualquer um que passe por ela, e, isso  prova que, independente do mercado da arte, do lado "lixo" comercial que existe e existe porque artistas são pessoas normais e precisam ganhar dinheiro, como médicos para sobreviver, a arte alcança camadas de nosso ser que nem nós mesmos conhecemos muitas vezes e são estas as camadas que se comunicam com nossa subjetividade e que fazem de nós seres bastante interessantes, seres vivos...

Abraços empolgantes e movimentados...Jú

Juliana Carvalho Carnasciali
Stella!!!Oioi...fiquei curiosa em saber mais sobre o seu trabalho...conte mais coisas para nós... abraços Jú
Elcias Villar De Carvalho
oi meu nome é elcias villar, sou ator, direor de teatro e professor de artes. estou hoje a frente de uma divisão de arte e cultura na escola e desenvolvo projetos dentro das escolas municipais da minha cidade. tenho uma atuação muito centrada na região periferica, mais conhecida como ZONA LESTE. uma area inicialmente criada por garinpeiros que consequentemente tornou-se muito violenta. todo tipo de arte popular é absorvido na região, principalmente por ser nosso estado formado por gente de todo o pais a absorção de outras culturas é muito fácil, a cultura do inicio do surgimento da cidade, quase que se perdeu por completo. tudo isso é pra dizer que mesmo neste caos, acumulado desse "lixo" a arte surge com a pureza das crianças, na dança, no teatro, no HIp Hop, no cinema de um minuto. posso ser um bobo sentimentalista, mas se vermos a arte contemporanea com os olhos de uma criança. poderemos aproveitar até o lixo perecível.
Carmem

O professor deve ser um instigador, um provocador. O aluno, ser individual, sensibilidade única. Como tocá-los com esse tema? Quero aprender com vs.

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