Em vista do fenômeno do crescimento vertiginoso dos museus em diversas cidades do mundo e da conseqüente necessidade que esses têm de atrair mais e mais visitantes para satisfazer seus patrocinadores, Glenn D. Lowry, diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, em recente entrevista ao Caderno Mais!(1) , declarou que os museus de arte não devem se tornar centros de espetáculos, pois eles são antes de tudo espaço para o desenvolvimento da experiência e da educação.
A afirmação de Lowry não é novidade, pois conferir à educação um papel relevante tornou-se um consenso no panorama dos museus ao longo do século XX. Essa tendência iniciou-se no século XVII, quando as coleções reais européias se transformaram em coleções públicas. Antes disso, coletar, conservar e pesquisar eram as principais funções dos museus, mas a função expositiva foi se tornando predominante, à medida que a instituição museológica tornou-se pública. Em princípio, as exposições eram montadas para beneficiar o esteta, o estudioso, o colecionador, o artesão e um público ilustrado que se satisfazia com um mínimo de explicações.
Com a democratização das sociedades européias, os museus não só reorganizaram suas coleções, como foram obrigados a transformar suas exposições em objeto de interesse coletivo, e o modo que encontram para isso foi a representação dos momentos da história da arte. De certo modo, este tipo de exposição democratizava parcialmente a experiência, pois, teoricamente, qualquer pessoa poderia aprender o sistema de classificação e as características específicas atribuídas a cada escola e a cada mestre.
Desde então, a exposição passou a ser, e ainda é, o principal veículo de comunicação entre as operações museológicas e os visitantes, podendo articular de maneiras diversas vários objetos em espaços projetados especificamente para esse fim. Utiliza-se da linguagem dos objetos, mas eles não comunicam por si só. Por isso, para que os visitantes compreendam a intenção dos museólogos ou curadores que a conceberam, alguns recursos de mediação costumam ser utilizados, tais como textos de parede, folhetos, catálogos, áudio-guias e principalmente o trabalho interpessoal de visitas monitoradas realizado por educadores.
As bienais, os centros culturais, os pavilhões culturais também utilizam a exposição como um de seus principais veículos de comunicação. Um professor que costuma levar seus alunos para visitar as coleções do Museu de Arte Contemporânea da USP ou do MASP, e as mostras temporárias no Itaú Cultural ou na Oca, por exemplo, perceberá que os procedimentos de mediação em muito se assemelham. A diferença entre eles é que nos museus, pelo fato das coleções permanecerem expostas por longos períodos, é possível se desenvolver programas de ação continuada, com apoio de material didático e cursos de capacitação. Dessa maneira, um professor pode elencar temas ou obras de um acervo para fazer parte da seriação de seu currículo, e poderá voltar todos os anos com uma determinada série para trabalhar, por exemplo, o tema retrato na coleção de um determinado museu. Ao retornar em anos subseqüentes, o professor já tem muito mais recursos para preparar seus alunos e propor novas idéias para os educadores de museus.
Por uma série de razões, os professores cada vez mais levam seus alunos aos museus. Às vezes, o fazem porque pretendem estudar alguns movimentos artísticos ou porque querem aprofundar o conhecimento sobre os procedimentos acumulados historicamente para a elaboração do desenho, pintura, gravura, escultura ou instalações. E às vezes simplesmente não sabem muito bem o que querem, mas acreditam que a experiência pode ser positiva. E realmente é. Em pesquisa realizada pelo Museu Lasar Segall em 2000(2) , provou-se que uma visita monitorada é em si um forte indutor para o desejo de retorno. Só não o será, se ocorrem problemas como espera em filas, superlotação no espaço expositivo, percurso denso, linguagem não-acessível.
Para garantir não apenas a “simpatia” pelo museu, mas também a aprendizagem dos conteúdos planejados para uma visita, é necessário que os alunos sejam preparados previamente para saberem o que vão encontrar no museu e como serão todas as etapas da “saída da escola”, incluindo aspectos que parecem menos relevantes, tais como: quem lhes acompanhará, além dos professores, como irão se distribuir no ônibus, se tomarão lanche, se haverá um monitor para lhes acolher. Os autores Falk e Dierking, em seu livro The museum experience, apresentam resultados de uma pesquisa que apontam que se a expectativa pessoal de cada visitante for atendida, tanto melhor será a aprendizagem. Além disso, a memória de adultos sobre suas primeiras visitas a museus com a escola indica que as lembranças mais fortes são os de contexto social, isto é, ao lado de quem sentaram-se no ônibus, quem os acompanhou e como era o monitor.
Tudo isso aponta para a importância que as escolas têm para a formação de público de museus. Se um museu tem um programa educativo bem estruturado ao longo de anos, terá grandes chances de transformar o usuário de hoje no público habitual de amanhã, a começar pelos próprios professores. Quantos deles nunca tinham freqüentado museus antes de levar seus alunos e de participar de cursos de capacitação?
Os resultados da pesquisa acadêmica(3) que realizei entre 1999 e 2000 apontam para a importância que a escola tem na formação de público de museus. Ao entrevistar os pais das crianças de três escolas que visitaram o Museu Lasar Segall em 1999, conclui que eles não se sentem responsáveis por levar seus filhos aos museus. A escola portanto acaba assumindo essa responsabilidade praticamente sozinha. Por isso, os museus no Brasil precisam cada vez mais implantar programas dirigidos a famílias para ajudar pais ou responsáveis que não sabem como e porque visitá-los.
A parceria museu-escola já é madura em muitas cidades do Brasil. Todo o trabalho que o professor despende para levar seus alunos a exposições acaba gerando resultados muito frutíferos para a formação de hábito de visitação de museus, especialmente quando desenvolve projetos de longa duração. Na pesquisa já mencionada anteriormente (Mortara Almeida), constatou-se que 40% dos estudantes de uma Escola Estadual de Ensino Fundamental que vem desenvolvendo um projeto continuado com o Museu Lasar Segall, desde 1996, retornou ao museu por conta própria, sem a escola.
Isto só confirma o quanto a escola que se compromete é responsável por ajudar a formar melhores cidadãos, que cada vez mais têm condições de zelar pelo patrimônio público.
Bibliografia:
ALEXANDER, Edward P. Museums in motion. Nashville: American Association for State and local History, 4th printing, 1986.
FALK, DIERKING. The museum experience. Washington: Whalesback Books, 1992.
GRINSPUM, Denise. Educação para o Patrimônio: Museu e escola – Responsabilidade compartilhada na formação de públicos. São Paulo: s.n., 2000. Tese de doutorado – Faculdade de Educação/Universidade de São Paulo.
(1) Suplemento do jornal Folha de S. Paulo, 22 fev 2004.
(2) Adriana Mortara Almeida conduziu a pesquisa “...”
(3) GRINSPUM, Denise. Educação para o Patrimônio: Museu e escola – Responsabilidade compartilhada na formação de públicos. São Paulo: s.n., 2000. Tese de doutorado – Faculdade de educação /Universidade de São Paulo.

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